Com longa tradição no xadrez, a equipe masculina armênia levou a prata na competição mais importante do esporte. Saiba um pouco dessa relação de séculos entre os armênios e o xadrez
Na 44ª Olimpíada de Xadrez, que foi realizada entre os dias 28 de julho e 10 de agosto em Chennai, na Índia, a equipe masculina da Armênia, que foi representada pelos atletas Gabriel Sargissian, Hrant Melkumyan, Manuel Petrosyan, Samvel Ter-Sahakyan e Robert Hovhannisyan, ficou com o segundo lugar da competição, empatando em números de pontos (19) com o Uzbequistão, país medalhista de ouro.
E com 16 pontos, a equipe feminina, que foi representada pelas atletas Elina Danielian, Lilit Mkrtchian, Anna Sargsyan, Mariam Mkrtchyan e Susanna Gaboyan ficou em 12°, alcançando a mesma pontuação da sexta colocada Polônia – quem levou o ouro foi a Ucrânia.
Porém, esses ótimos resultados não são nenhuma surpresa, já que a armênia tem uma longa relação com esse esporte, que também é considerado uma arte e uma ciência.
Xadrez e os armênios
Segundo os historiadores Joseph Orbeli e Kamilla Trever, o xadrez era conhecido na Armênia desde pelo menos o Século IX, durante o domínio árabe, quando o esporte foi trazido à Armênia pelos árabes da Índia.
E isso pode ser corroborado por diversos outros indícios históricos: em 1967, peças de xadrez foram escavadas por arqueólogos na cidadela de Dvin, a capital medieval da Armênia, em mais uma das grandes descobertas feitas no país. Mais do que isso, o esporte é mencionado em manuscritos dos Séculos XII e XIII, por grandes nomes como o historiador Vardan Areveltsi e o monge Mkhitar Anetsi.
E essa tradição medieval perdurou por bastante tempo, já que até meados do Século XX, os moradores de Shenavan, em Arapan, usavam figuras de xadrez caseiras semelhantes às medievais.
Mesmo com essa tradição de séculos, o xadrez começa a se tornar popular na Armênia apenas no início do período soviético, quando a partir de 1926, por iniciativa do químico Simon Hovyan, seções sobre o esporte começam a aparecer em muitos jornais armênios – além disso, Hovyan deu palestras e traduziu livros de importantes autores alemães e russos sobre o tema.
Já em 1927, a Federação Armênia de Xadrez foi fundada e as primeiras competições foram realizadas. Porém, apenas em 1934 o primeiro Campeonato Armênio de Xadrez foi realizado. No masculino, o título ficou com Genrikh Kasparyan; já no campeonato feminino, Sirush Makints e Margarita Mirza-Avagian dividiram o título.
Em 1936, o primeiro clube de xadrez da Armênia foi fundado em Yerevan e na década de 1950, clubes de xadrez também foram fundados em Leninakan (atual Gyumri) e Kirovakan (atual Vanadzor).
Pouco tempo depois, na década 1960, o reconhecimento do esporte na Armênia ganhou força, quando o grão-mestre armênio Tigran Petrosian se tornou o Campeão Mundial de Xadrez.
Mesmo com sua pequena população de pouco menos de 3 milhões de habitantes, a Armênia é considerada uma das nações mais fortes do xadrez e, dentre todos os países, o país com mais mestres per capita – desde a o início da década de 1980, todas as cidades e distritos da Armênia Soviética tinham clubes de xadrez.
E isso é demonstrado pelos resultados no esporte, já que desde a independência do país em 1991, a equipe de xadrez masculino já ganhou prêmios como o Campeonato Europeu de 1999, o Campeonato Mundial por Equipes de 2011, e a Olimpíada de Xadrez de 2006, 2008 e 2012 – além disso, na Olimpíada, a equipe já levou também a já citada prata em 2022 e o bronze em 1992, 2002 e 2004.
E se contarmos a presença de armênios competindo pela União Soviética antes da independência armênia, houve também a participação nos títulos nas Olimpíadas de 1958, 1960, 1962, 1964, 1966, 1968, 1970, 1972, 1980, 1982, 1984, 1986 e 1988.
A equipe feminina do país também é muito tradicional e o seu principal título foi no Campeonato Europeu por Equipes de 2003.
Com essa relação histórica com o xadrez, em 2011 a Armênia, por meio do Ministério da Educação, deu um passo além e se tornou o primeiro país da história – e o único até hoje – a tornar o esporte parte do currículo da escola primária, junto com matérias como matemática e história – atualmente, com duas aulas semanais, o xadrez é ensinado para alunos do segundo ao quarto ano.
E a relação dos armênios com o esporte não é exclusiva aos que nasceram no território armênio: armênios da diáspora se destacam no esporte, como o russo Garry Kasparov – considerado por muitos o melhor da história –, o brasileiro Krikor Mekhitarian, o uruguaio José Bademian Orchanian, entre outros.
Já vários armênios nascidos no território armênio hoje competem por outros países, como o caso de Levon Aronian, considerado o melhor enxadrista do país desde Tigran Petrosian. Tricampeão olímpico, ele resolveu defender os EUA a partir de 2021.
Com mais de 28 grandes mestres no país, entre homens e mulheres, atualmente os 10 melhores enxadristas armênios, de acordo com o ranking masculino da Federação Internacional de Xadrez, são: Gabriel Sargissian, Haik M. Martirosyan, Shant Sargsyan, Hrant Melkumyan, Karen H. Grigoryan, Samvel Ter-Sahakyan, Sergei Movsesian, Aram Hakobyan, Manuel Petrosyan e Robert Hovhannisyan.
Já entre as mulheres, as 10 melhores enxadristas armênias são: Elina Danielian, Anna Sargsyan, Lilit Mkrtchian, Mariam Mkrtchyan, Susanna Gaboyan, Maria Gevorgyan, Siranush Andriasian, Siranush Ghukasyan, Armine Babayan e Anna Khachatryan.
Com essa rica história, uma coisa podemos afirmar: no xadrez, ninguém tem uma relação igual de amor, sucesso e admiração como os armênios!