A Armênia, apesar de sua história milenar, sua importância geopolítica e de ter uma comunidade vibrante no Brasil e em diversos outros países, nunca teve a cobertura de impacto na imprensa brasileira. E foi pensando nisso que a UGAB Brasil organizou, de forma inédita na história da entidade, um curso para dar a cinco jornalistas brasileiros de alto nível e de renome um panorama abrangente do país e de sua pluralidade.
E foi assim que surgiu a primeira edição do curso “Armênia: política, história e sociedade”, no qual os jornalistas Filipe Figueiredo, do Xadrez Verbal, Fernanda Simas, de O Estado de S. Paulo, Luciane Scarazzati, do UOL, Betina Anton, da TV Globo, e Fernando Andrade, da CBN, puderam ir a Armênia pela primeira vez entre os dias 16 e 28 de abril e conhecer a realidade do país, a situação de Artsakh e do Corredor de Lachin, conhecer mais sobre a história armênia e se aprofundar em diversos outros temas.
Os jornalistas que participaram da primeira edição do curso na entrada da sede da UGAB Armênia
E o curso oficialmente começou no dia 17 de abril, onde os jornalistas puderam participar de um debate sobre a atual situação de Artsakh e de toda a região com membros do APRI (Applied Policy Research Institute Armenia), incluindo a participação da presidente Lara Setrakian – o APRI, que foi fundado pela UGAB, é um think tank independente e um acelerador de políticas focado no avanço da estabilidade regional, prosperidade sustentável e engajamento cívico no sul do Cáucaso; tem em seus programas e iniciativas uma orientação para a solução de forma concreta dos problemas, abordando os principais desafios enfrentados pela região.
Após o debate inicial, o grupo se encontrou com o presidente da UGAB Armênia Vasken Yacoubian e a diretora executiva Marina Mkhitaryan, que falaram sobre a história da UGAB, o papel da entidade na Armênia, Artsakh e na Nação Global Armênia, entre outros.
Depois, o grupo visitou a Universidade Americana da Armênia, que conta com apoio da UGAB e, por fim, tiveram um encontro com o Ministro da Economia da Armênia, Vahan Kenobyan.
O grupo de jornalistas em encontro com o Vahan Kenobyan, Ministro da Economia da Armênia.
No segundo dia do curso, os jornalistas puderam visitar o maior templo yazidi do mundo, o Quba Mêrê Dîwanê, que fica há cerca de 40 minutos de Yerevan. Lá, puderam se encontrar com Khdr Hajovan, que é presidente da União Nacional dos Yazidis, e puderam conhecer mais sobre a história dos yazidis, sua cultura e de como a Armênia é um refúgio para eles.
Em seguida, visitaram o Memorial do Genocídio Armênio para compreender mais o primeiro genocídio do Século XX, que foi realizado pelo Império Otomano e que vitimou 1,5 milhão de armênios; lá, puderam conhecer o diretor Harutyun Marutyan.
Por fim, terminaram o dia visitando o Yerablur, o cemitério militar onde os heróis armênios que faleceram nos conflitos pela defesa da pátria e de Artsakh estão sepultados.
Grupo de jornalistas em visita ao maior templo yazidi do mundo, que fica na Armênia
Já no terceiro dia de curso, os participantes saíram de Yerevan com destino a Goris, no sul do país, próximo a Artsakh – a ida até Goris foi um dos pontos mais importantes do curso, permitindo ao grupo uma compreensão da real situação de Artsakh, principalmente em relação ao bloqueio do Corredor de Lachin, que se iniciou em dezembro de 2022 e que continua até hoje.
No caminho para Goris e acompanhados de um guia, o grupo pôde conhecer pontos turísticos simbólicos e impactantes da Armênia, como os monastérios de Khor Virap e Noravank, ao mesmo tempo em que aprendiam a história do lugar e, é claro, do país.
Visita ao monastério Khor Virap
E no quarto dia do curso “Armênia: política, história e sociedade”, o dia em Goris começou com uma entrevista com uma das figuras mais simbólicas de Artsakh e de seu povo: Artak Beglaryan, que é Conselheiro do Ministro de Estado de Artsakh. Ele, que perdeu a visão aos 6 anos de idade após pisar em uma mina colocada por soldados do Azerbaijão no período da primeira guerra de Nagorno-Karabakh, falou diretamente de Artsakh com os jornalistas e explicou como está a situação da região, principalmente após o bloqueio do Corredor de Lachin.
E após a importante entrevista, os jornalistas puderam conhecer um dos lugares mais incríveis e especiais da Armênia, que é Khndzoresk, um vilarejo que, por mais de 3 mil anos (e até os anos 1950), as pessoas moraram em cavernas.
Em seguida, os jornalistas foram até a comunidade de Tegh, próximo a Artsakh e que é composta por sete vilarejos, e falaram com Davit Ghulunts, o chefe dessas comunidades, e com seu assistente e voluntário pela defesa da população local, Aram Mirzoyan. Na conversa, compreenderam mais a situação desses vilarejos e do medo constante da população de uma nova invasão e de novos ataques.
E após eles falaram com a população local desses vilarejos, inclusive com senhoras que produzem lavash, o pão típico armênio, foi a vez de ir até o vilarejo de Kornidzor, a literalmente poucos metros do Azerbaijão, onde conheceram Lusine Karamyan, a antiga chefe do vilarejo de pouco mais de 1.000 habitantes; lá, eles conheceram uma família de refugiados de Artsakh, que deixaram suas vidas para trás e hoje vivem em uma situação difícil. Por fim, o dia terminou em um jantar na casa de Lusine, que mostra a hospitalidade única do povo armênio, mesmo em momentos difíceis como as pessoas dessa região andam vivendo, especialmente desde 2020.
Visita à casa de Lusine Karamyan
Após o quarto e cheio dia do curso, o quinto dia se iniciou com os jornalistas conversando com Ruben Vardanyan, que foi Ministro de Estado de Artsakh até fevereiro de 2023. Na conversa, Ruben falou sobre sua carreira e sobre a situação de Artsakh e o bloqueio de Lachin.
Depois, os participantes foram conhecer a empreendedora Liana Sahakyan, que, por meio de seu impressionante trabalho, criou em 2003 a ONG “Sose Women’s Issues”, que tem o objetivo de ajudar mulheres armênias em diversos aspectos da sociedade, em especial as que vivem na região de Syunik – a ONG já impactou mais de 20 mil mulheres em 20 anos de história.
E por fim, todos foram conhecer um dos lugares mais especiais da Armênia, o Monastério de Tatev – lá, também, eles andaram no teleférico mais longo do mundo, que foi justamente construído pelo filantropo Ruben Vardanyan, que também é fundador do Aurora Prize, que é um prêmio humanitário internacional que reconhece indivíduos por seus trabalhos humanitários. O prêmio é concedido em nome dos sobreviventes do Genocídio Armênio e as cerimônias acontecem desde 24 de abril de 2016 – cada pessoa laureada com o prêmio recebe 1 milhão de dólares.
Entrevista com o filantropo e político Ruben Vardanyan
Continuando a intensa agenda de atividades, no sexto dia de curso, que aconteceu no dia 23 de abril, os jornalistas visitaram o Monastério de Geghard, que, com sua construção única, já que está incrustado na montanha, é considerado um Patrimônio Mundial da UNESCO.
Em seguida, visitaram o Templo de Garni, que foi construído no Século I a.C. e é o único templo de colunata greco-romano da Armênia. Lá, puderam conhecer um pouco mais sobre a milenar história armênia.
Depois, foram a Etchmiadzin, onde foram recebidos pelo Arcebispo Nathan Hovhannisian, que é Diretor do Departamento de Relações Exteriores da Santa Sé de Etchmiadzin – dentre diversos assuntos, um dos mais abordados foi a atual situação de Artsakh.
Por fim, os participantes do curso se reuniram na Praça da República para ver o acendimento das velas e tochas, que marca o início da lembrança em memória às 1,5 milhão de vítimas do Genocídio Armênio.
Reunião com o Arcebispo Nathan Hovhannisian
E no dia 24 de abril, que é o dia da lembrança em memória às vítimas do Genocídio Armênio, os jornalistas puderam compreender um pouco mais da data que rememora todas as 1,5 milhão de vítimas do Genocídio Armênio, que em 2023 completou 108 anos.
Juntos, no sétimo dia de curso, eles marcharam ao lado de membros da UGAB Armênia até o Tsitsernakaberd, o Memorial do Genocídio Armênio, onde depositaram flores em memória das vítimas que jamais serão esquecidas.
Coroa de flores da UGAB em homenagem às 1,5 milhão de vítimas do Genocídio Armênio
Após o impactante e simbólico 24 de abril, no oitavo e antepenúltimo dia do curso, o grupo de jornalistas visitou a Engineering City, um hub que conta com mais de 20 empresas de engenharia – e que serão expandidas para até 80 – de diversas partes do mundo e que usam esse ecossistema como um catalizador para potencializar suas empresas. Lá, puderam conhecer Aram Salatian e Marina Saguinian, os idealizadores dessa cidade da engenharia.
Depois, puderam conhecer e se impressionar com um dos maiores casos de sucesso da Armênia, o TUMO, que é um centro para tecnologias criativas. Criado na Armênia em 2011, o TUMO é um programa educacional gratuito para adolescentes de 12 a 18 anos especializado em tecnologia e design, onde os adolescentes podem ter aulas e capacitações oferecidas em diferentes áreas e em diversas partes da Armênia e Artsakh – devido ao seu modelo único, a ideia do TUMO já foi importada por diversas cidades mundo afora, como Paris, Beirute, Moscou, Berlim, Kiev, Lyon e Coimbra.
Fundado por Sam Simonian e Sylva Simonian, o TUMO já ganhou diversos prêmios em 12 anos de história, dentre eles o Prêmio Nostra Europa em Educação, Treinamento e Divulgação – o prêmio é concedido a indivíduos e organizações que fazem contribuições significativas nessas áreas.
Ainda no mesmo prédio do TUMO, foi a vez do grupo conhecer a sede da Picsart, a primeira startup unicórnio – ou seja, que tem valor de 1 bilhão de dólares ou mais – da história da Armênia. No encontro, puderam conhecer mais sobre a história da Picsart, das suas principais tecnologias e puderam conhecer a diretora sênior da empresa, Madlene Minassian.
E para fechar o dia de tecnologia, os jornalistas tiveram um encontro com imigrantes russos e que estão vivendo na Armênia desde que começou o conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
Visita ao TUMO, em Yerevan
E no nono e penúltimo dia do curso, os jornalistas tiveram um dia focado em geopolítica, onde puderam participar de conversas com membros do APRI sobre a Armênia e Artsakh, sobre os países vizinhos, sobre direitos humanos, entre diversos outros assuntos – os debates foram mediados pela presidente Lara Setrakian.
E a primeira conversa foi com o analista político Eric Hagopian e com Arman Tatoyan, que exerceu o cargo de defensor dos direitos humanos da Armênia e que é também um dos juízes do Tribual Europeu de Direitos Humanos.
Depois, os jornalistas debateram com Sheila Paylan, que é advogada e presidente da Ordem de Advocacia das Mulheres Armênias, além de ter trabalhado em diversas frentes no Conselho de Direitos Humanos da ONU, e com Sergey Melkonyan, que é especialista em conflitos no Oriente Médio e em política externa da Rússia.
Em seguida, foi a vez de uma conversa com Nvard Chalikyan, que é especialista em relações internacionais (com foco na região do Cáucaso Meridional), com Tatev Hayrapetyan, que é especialista em Azerbaijão e ex-membro do parlamento armênio, e com Johny Melikyan, que também é especialista em relações internacionais, com foco na Rússia e Geórgia.
E para finalizar esse incrível dia de muito conhecimento, os jornalistas visitaram a Embaixada do Brasil em Yerevan, onde puderam conhecer o Embaixador Fábio Vaz Pitaluga e o Conselheiro César Nascimento. No encontro, foi discutido, principalmente, as relações e parcerias entre Brasil e Armênia.
Sergey Melkonyan, Sheila Paylan e Lara Setrakian em conversa sobre a atual situação de Artsakh
E fechando com chave de ouro o décimo e último dia do curso “Armênia: política, história e sociedade”, os jornalistas iniciaram o dia visitando a sede e conversando com editores do CivilNet, que é uma fonte de notícias da Armênia com foco em direitos humanos e democracia, paz regional e na diáspora.
Depois, foi a vez de conhecer outro veículo de mídia muito respeitado na Armênia, a revista EVN Report. Com publicações semanais, a revista é independente e sem fins lucrativos, oferecendo ao leitor uma mistura de reportagens, análises e comentários sobre políticas, economia, cultura, tecnologia, artes, entre outros.
Em seguida, foi a vez de um encontro com Sergey Ghazaryan, que é Ministro das Relações Exteriores de Artsakh. Na conversa, ele falou mais sobre a atual situação da Artsakh, sobre o apagamento cultural realizado pelo Azerbaijão, entre outros importantes e impactantes assuntos.
E para finalizar com chave de ouro esses intensos dias, os jornalistas puderam se encontrar com Zohrab Mnatsakanyan, que é ex-Ministro das Relações Exteriores da Armênia. Na conversa, ele falou sobre suas experiências no cargo, sobre os desafios da região, entre diversos outros assuntos.
Grupo de jornalistas brasileiros em encontro com Zohrab Mnatsakanyan, que é ex-Ministro das Relações Exteriores da Armênia.
E após dias intensos de aprendizados e encontros, a UGAB Brasil, como idealizadora e apoiadora do curso, não pode deixar de agradecer a todos que participaram do curso de alguma forma. Por isso, a entidade gostaria de agradecer à UGAB Armênia – por meio do presidente Vasken Yacoubian e da responsável pelos projetos humanitários Gayane Pochoyan –, que nos ajudou a realizar essa incrível iniciativa, que é inédita no Brasil. Também, gostaríamos de agradecer à presidente da APRI, Lara Setrakian, que nos ajudou a organizar incríveis encontros sobre geopolítica.
Também, agradecemos ao indispensável Armen Ovanessof, que também nos ajudou a organizar a viagem e esteve todos os dias acompanhando os jornalistas e fazendo com que eles pudessem entender mais sobre a cultura e sociedade armênia. Quem também acompanhou diariamente o grupo foram os incríveis fotógrafos Davit Hakobyan e Vanush Melkonyan.
Claro, também não poderíamos deixar de agradecer aos jornalistas que participaram da primeira edição do curso: Filipe Figueiredo, Fernanda Simas, Luciane Scarazzati, Betina Anton e Fernando Andrade.
Para ver todas as fotos do curso, basta acessar o Facebook da UGAB Brasil, clicando aqui. E nos vemos em 2024, na próxima edição do curso “Armênia: política, história e sociedade”!