Diana Abgar: a primeira diplomata

Diana Abgar (Anahit Aghabekyan) foi uma mulher extraordinária cuja vida e legado continuam a inspirar gerações. Nascida em 17 de outubro de 1859 em Rangum, Birmânia (atual Yangon, Mianmar), seu pai era um armênio de Nova Julfa, Irã; já sua mãe era da tradicional família Tateos Aventum de Shiraz, uma cidade também no Irã. Ela pertencia à família Aghabekyan, cujos ancestrais foram deportados de Dzhugha para a Pérsia durante o reassentamento em massa de armênios por ordem do Xá Abbas em 1604-1605.

Diana era a mais nova dos sete filhos da família, que havia se mudado para o Sudeste Asiático antes de seu nascimento. O fato de ser armênia influenciou profundamente sua identidade, trabalho, visão de mundo e o caminho que ela seguiria na vida.

 


Diana Abgar

Formação e desafios iniciais (1991 – 1994)

Criada em Calcutá, Índia, Diana recebeu sua educação em uma escola de convento local, onde se tornou fluente em inglês, armênio e hindustani. Em 1889, ela se casou com o comerciante armênio – radicado em Hong Kong – Mikhael Abgar (Abgaryan), cuja família também tinha origens na Pérsia. À época do casamento, Diana tinha aspirações de se tornar escritora e mais tarde o casal se mudou para Kobe, Japão, onde estabeleceu um negócio comercial bem-sucedido.

Diana e Mikhael no Japão

No Japão, se tornaram figuras influentes na comunidade armênia do país. Apesar das tragédias pessoais, incluindo a perda de dois de seus cinco filhos, Diana começou sua carreira literária, publicando “Suzan”, seu primeiro romance, na terra do sol nascente. Em seus trabalhos, ela escreveu extensivamente sobre assuntos como a situação dos oprimidos, relações internacionais e as consequências do imperialismo.

Abgar começou sua carreira literária no Japão, publicando seu primeiro romance “Suzan” em 1882. Ela escreveu extensivamente sobre tópicos como a situação dos oprimidos, relações internacionais e as consequências do imperialismo.

Uma diplomata sem país

Infelizmente, foi no Japão que Mikhael, seu marido, faleceu repentinamente, deixando Diana com dívidas (após duas falências do casal) e três filhos em uma terra estrangeira. Ela teve que sustentar sua família e estabilizar o negócio (eventualmente tornando-o um sucesso), mas ela ainda queria concentrar sua energia em outro lugar.

A área que clamava por atenção era o Oriente Médio. O enfraquecido Império Otomano estava perdendo uma província após a outra, enquanto Grécia, Bulgária e Macedônia estavam recuperando sua independência. A suspeita e a hostilidade do governo otomano em relação às minorias restantes aumentaram constantemente. Os massacres armênios de 1895-96 e 1909 reuniram considerável cobertura da mídia, mas nenhum país fez nada parar mudar essa situação.

Durante a Primeira Guerra Mundial, período em que o Genocídio Armênio se iniciou, o objetivo de Diana estava definido: o povo armênio, seu povo, precisava dela, e ela comprometeu sua paixão e idealismo à causa dos armênios. Ela apelou para sociedades de paz e enviou seus artigos para os principais jornais europeus e americanos, defendendo seu caso: o direito dos armênios à “segurança de vida e propriedade no solo de seu próprio país”. Ela se correspondeu com o fundador da Universidade de Stanford, David Starr Jordan, o presidente da Universidade de Columbia, Nicholas M. Butler, o secretário de Estado dos EUA, Robert Lansing, e dezenas de outros — jornalistas, missionários, políticos. Além disso, ela dava palestras sobre o povo armênio e escrevia para jornais famosos como The Japan Gazette, The Times, Le Figaro e outros.

E cem anos antes do surgimento das mídias sociais, Diana criou uma extensa rede de conexões, argumentando repetidamente que se nada fosse feito para proteger os armênios, novos massacres aconteceriam. Além da morte de 1,5 milhão de armênios durante o Genocídio Armênio, centenas de milhares de sobreviventes fugiram em todas as direções, incluindo o Cáucaso. Alguns deles continuaram para o norte, para a Rússia, apenas para encontrar o país no meio da sangrenta revolução bolchevique. Os refugiados não podiam voltar, e não podiam ir para o oeste, para a Europa, por causa da Primeira Guerra Mundial; e então eles escolheram uma direção inesperada — Leste, através da infinita Sibéria, até o Oceano Pacífico. Como não havia navios para levá-los para a América da cidade portuária russa de Vladivostok, eles precisavam ir para o Japão.

Devido aos apelos e garantias de Diana às autoridades japonesas, os refugiados armênios receberam asilo temporário no Japão. Diana alugou casas para abrigar os refugiados e matriculou seus filhos na escola. Ela ajudou com vistos e documentos, e se tornou a representante japonesa da Cruz Vermelha Americana de Vladivostok; ela localizou parentes de refugiados nos Estados Unidos e negociou ferozmente com as companhias de navios a vapor, que estavam lotadas além da capacidade para os meses seguintes, já que muitas embarcações tinham sido realocadas para servir aos fins da guerra. Usando seus próprios recursos para ajudar as pessoas, Diana estava agindo como uma embaixadora de fato do estado inexistente da Armênia.

Seus esforços para ajudar os armênios e conscientizar o mundo dos horrores do genocídio também estavam presentes na literatura: até 1920, ela havia escrito mais de nove livros sobre Genocídio Armênio e clamando por reconhecimento e justiça internacionais.

Imagem de um de seus livros sobre o Genocídio Armênio

Pioneira na diplomacia

Em 1918, o Império Otomano perdeu a guerra e ao mesmo tempo a Rússia estava em uma guerra civil. Isso criou um vácuo de poder no Cáucaso, permitindo que um novo país surgisse no dia 28 de maio — a Primeira República da Armênia.

No início, a Armênia não foi reconhecida por nenhum estado internacional. No entanto, em 1920, por meio dos esforços de Diana Abgar, o Japão se tornou a primeira nação a reconhecer a independência da nova república. Assim, em respeito aos seus esforços, Hamo Ohanjanyan, que era então o Ministro das Relações Exteriores da República, nomeou Diana como Cônsul Honorária no Japão. Essa nomeação tornou Diana a primeira mulher diplomata armênia e uma das primeiras na história. No entanto, após a queda da Primeira República da Armênia, em 1920, seu posto foi abruptamente encerrado.

Passaporte diplomático de Diana Abgar

Em 1926, o Patriarca Supremo e Católico de Todos os Armênios Kevork honrou Diana com um decreto especial, por todas suas atividades – ao longo de sua vida, ela foi uma uma seguidora da Igreja Apostólica Armênia e até o fim de sua vida ela manteve contato com Echmiadzin.

Mesmo com o fim de seu posto, Diana Abgar continuou seu trabalho humanitário e literário até sua morte em 8 de julho de 1937, em Yokohama, Japão. Ela foi enterrada no cemitério para estrangeiros ao lado do marido. Seu túmulo é atualmente mantido pela Sociedade de Amizade Armênio-Japonesa em Tóquio.

Sua vida e vida e trabalho continuam a inspirar muitos, representando a resiliência e a força do povo armênio. Ela quebrou barreiras como diplomata e deixou uma marca indelével na história da diplomacia e literatura armênias. Em 2011, ela foi postumamente premiada com a Medalha de Honra pelo governo armênio por seu serviço excepcional à nação armênia e à diáspora.

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