Armênia, Armênios e o Oscar

Em 2023, o Oscar, a premiação mais famosa e importante do cinema, completará 95 anos de história. E apesar de nenhum filme armênio ter concorrido aos prêmios principais nos anos anteriores, isso pode mudar com “Aurora’s Sunrise”

O Oscar, o prêmio mais conhecido do cinema, surge em 1927 para celebrar o melhor do cinema. E foi apenas em 1956 que foi criada a categoria de Melhor Filme Internacional (que até recentemente era conhecido como a de “Melhor Filme Estrangeiro”), que surge justamente para prestigiar as produções de outros países.

E já em 1991, no ano em que conquistou sua independência, a Armênia tentou submeter um filme ao Oscar, que foi desqualificado devido às regras da categoria.

E foi apenas em 2001 que o país conseguiu submeter com sucesso um filme ao Oscar: “Sinfonia do Silêncio”, de Vigen Chaldranyan. Porém, o filme não chegou a ficar entre os cinco finalistas.

Cena de “Sinfonia do Silêncio’, primeiro filme armênio a ser submetido ao Oscar
Cena de “Sinfonia do Silêncio’, primeiro filme armênio a ser submetido ao Oscar

E desde então, a Armênia submeteu outros nove filmes, sem contar “Aurora’s Sunrise”: “Vodka Limão”, em 2003; “Outono do Mágico”, em 2009; “Se Todos”, em 2012; “Terremoto”, em 2016 (o filme foi desqualificado porque, apesar de ser armênio, a maior parte dos diálogos era em russo); “Yeva”, em 2017; “O Terremoto de Spitak”, em 2018; “Uma Noite Longa”, em 2019; “Canções de Salomão”, em 2020; e “Se o Vento Cair”, em 2021.

E a grande aposta do país para 2023 é “Aurora’s Sunrise”, um documentário dirigido por Inna Sahakyan e que utiliza testemunhos, imagens de arquivo e animação para contar em detalhes a incrível vida e história de Aurora Mardiganian, uma estrela do cinema mudo, autora e sobrevivente do Genocídio Armênio.

Aurora Mardiganian, cuja vida é retratada no filme “Aurora’s Sunrise”
Aurora Mardiganian, cuja vida é retratada no filme “Aurora’s Sunrise”

O Oscar 2023 acontecerá no dia 12 de março no Dolby Theatre, em Los Angeles, mas o caminho de “Aurora’s Sunrise” começa antes: depois de submetido, ele deve fazer parte da lista de 15 finalistas na categoria Melhor Filme Internacional, que será anunciada no dia 21 de dezembro de 2022; depois, a lista final será divulgada no dia 24 de janeiro de 2023.

Imagem do filme “Aurora’s Sunrise”, que foi selecionado pela Armênia para representar o país no Oscar em 2023
Imagem do filme “Aurora’s Sunrise”, que foi selecionado pela Armênia para representar o país no Oscar em 2023

E apesar de nenhum filme da Armênia ter concorrido ao Oscar, armênios de diversas partes do mundo já concorreram ou venceram o Oscar.

Armênios e o Oscar

A relação entre armênios e Oscar começa ainda com Rouben Mamoulian, considerado um dos grandes diretores da Era de Ouro de Hollywood. E apesar de ele mesmo nunca ter vencido um Oscar, em 1931 ele dirigiu o filme “O Médico e o Monstro”, que é considerada a melhor adaptação cinematográfica do conto de Robert Louis Stevenson e que deu o Oscar de Melhor Ator para Fredric March, sendo esse um dos primeiros atores a ganharem essa honraria.

Rouben Mamoulian, considerado um dos gênios de Hollywood e que trabalhou com grandes atores como Greta Garbo, Marlene Dietrich, Fred Astaire, Henry Fonda, entre outros
Rouben Mamoulian, considerado um dos gênios de Hollywood e que trabalhou com grandes atores como Greta Garbo, Marlene Dietrich, Fred Astaire, Henry Fonda, entre outros

E o primeiro armênio a ganhar o Oscar é um dos mais importantes escritores e dramaturgos da história: William Saroyan. Filho de armênios e nascido em Fresno, na Califórnia, ele ganhou em 1944 o prêmio na categoria Melhor Roteiro Original por seu primeiro trabalho no cinema, com o filme “A Comédia Humana”, que, dirigido por Clarence Brown, conta a história do órfão de pai Homer Macauley, que passa a assumir as responsabilidades da família quando seu irmão mais velho vai lutar pelos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial.

O escritor William Saroyan, o primeiro armênio a ganhar um Oscar
O escritor William Saroyan, o primeiro armênio a ganhar um Oscar

Já na década de 50, outro armênio concorre ao Oscar na mesma categoria de Melhor Roteiro Original: o franco-armênio Henri Verneuil, considerado um dos grandes nomes do cinema francês na história.

Nascido Ashot Malakian em 1920, Verneuil concorreu ao prêmio em 1955 com a comédia “O Carneiro de Cinco Patas”, que conta a história do Dr. Bolène, que tenta encontrar seus afilhados, que são quíntuplos, e que saíram da cidade francesa de Trézignan depois de uma discussão acalorada com o pai.

Henri Verneuil nunca esqueceu suas origens armênias e em 1991 dirigiu um filme semi-biográfico, sendo considerado um dos clássicos filmes da França e, também, da Armênia e de toda sua diáspora: “Mayrig”, que se passa na década de 1920 e que conta a história de uma família armênia que foge para a França em busca de asilo, após o fim do opressivo Império Otomano.

O diretor e escritor Henri Verneuil, um dos grandes nomes da história do cinema francês
O diretor e escritor Henri Verneuil, um dos grandes nomes da história do cinema francês

Ainda nos anos 60, outro franco-armênio venceu um Oscar, tendo vencido também na década de 70 e de 80: o compositor Michel Legrand. Nascido em 1932 em Paris, Legrand era filho de pai francês e mãe armênia. Um compositor prolífico, escreveu mais de 200 trilhas sonoras para cinema e televisão.

E seu primeiro Oscar veio em 1969 pela música “The Windmills of Your Mind”, que faz parte da trilha do filme “Crown, o Magnífico”, de Norman Jewison.

Anos depois, em 1972, ele vence novamente o Oscar, dessa vez na categoria de Melhor Trilha Sonora pelo filme “Houve uma Vez um Verão”, de Robert Mulligan. E em 1984, ele vence o Oscar pela terceira vez, também na categoria Melhor Trilha Sonora, pelo filme “Yentl”, que é dirigido e estrelado por Barbra Streisand.

Michel Legrand, um dos maiores compositores da história do cinema; ele concorreu a 13 Oscars e venceu três vezes
Michel Legrand, um dos maiores compositores da história do cinema; ele concorreu a 13 Oscars e venceu três vezes

Também em 1984, outra armênia concorreu ao Oscar, dessa vez na categoria Melhor Atriz Coadjuvante, com o filme “Silkwood, Retrato de uma Coragem”, de Mike Nichols; e quatro anos depois, ela finalmente venceu o Oscar, e dessa vez em grande estilo, levando para casa o prêmio na categoria de Melhor Atriz: Cher, que venceu pelo filme “Feitiço da Lua”.

Dirigido por Norman Jewison, o filme conta a história de Loretta Castorini, uma contadora viúva do Brooklyn e que fica em situação delicada quando se apaixona pelo irmão do homem com quem ela concordou em se casar e que, além disso, era o melhor amigo de seu falecido marido.

Cher, que é apelidada de “Deusa do Pop”, nasceu Cherilyn Sarkisian no dia 20 de maio de 1946. Considerada uma das primeiras e mais significativas representantes da autonomia feminina em uma indústria dominada por homens, ela começou sua carreira na música 1963 e desde então é uma das artistas mais bem-sucedidas da história, tendo vendido mais de 100 milhões de álbuns em carreira solo e outros 40 milhões como parte da dupla Sonny & Cher. Além disso, já venceu um Grammy, um Oscar, um Emmy, outros 43 prêmios de atuação e até hoje é a única artista a ter alcançado o primeiro lugar nas paradas da Revista Billboard por seis décadas consecutivas, dos anos 1960 até os anos 2010.

Cher com seu Oscar pelo filme “Feitiço da Lua”
Cher com seu Oscar pelo filme “Feitiço da Lua”

Já na década de 90, mais especificamente em 1994, temos o último armênio a vencer o Oscar, dessa vez na categoria Melhor Roteiro Adaptado: Steven Zaillian, que roteirizou “A Lista de Schindler”. O filme, que venceu sete Oscars, é dirigido por Steven Spielberg, fala sobre o Holocausto e é considerado por muitos um dos grandes filmes da história do cinema.

Zaillian nasceu no dia 30 de janeiro de 1953 em Fresno, a mesma cidade de William Saroyan. Seu primeiro trabalho no cinema foi em 1985 pelo filme “A Traição do Falcão”, de John Schlesinger. Conhecido por escrever roteiros que muitas vezes lidam com tragédias e drama, Zaillian, além de ter vencido o Oscar, concorreu outras quatro vezes, todas por roteiro: por “Tempo de Despertar”, em 1991; “Gangues de Nova York”, em 2003; “O Homem que Mudou o Jogo”, em 2012; e “O Irlandês”, em 2020.

O multipremiado roteirista Steven Zaillian
O multipremiado roteirista Steven Zaillian

Já em 2022, quem fez história foi a armênia-inglesa Tanya Seghatchian, que se tornou a primeira armênia a concorrer ao Oscar na categoria de Melhor Filme, com “Ataque dos Cães”, de Jane Campion.

E apesar de termos citado diversos armênios que concorreram e venceram o Oscar, a lista ainda é muito maior! Mas vale destacar que também em 2022, quatro armênios foram convidados pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que é quem organiza o Oscar, para serem membros votantes na premiação.

E o primeiro anunciado foi Eric Esrailian, que é membro do Conselho Central da UGAB [link clicável – UGAB) e que foi eleito para o Conselho de Curadores do Museu da Academia. Médico, empresário e produtor, ele já produziu filmes com foco em questões de direitos humanos e impacto social, como o filme “A Promessa” (2016) e o documentário “Intent to Destroy” (2017), ambos sobre o Genocídio Armênio.

Eric Esrailian, membro do Conselho Central da UGAB e membro votante do Oscar
Eric Esrailian, membro do Conselho Central da UGAB e membro votante do Oscar

E os outros três novos membros, que a partir de agora poderão votar no Oscar em suas categorias de atuação profissional, são: Sev Ohanian, produtor de sucessos como “Buscando…” (2018) e “Judas e o Messias Negro” (2021); Natalie Qasabian, produtora de sucessos como “Buscando…” (2018) e Fuja” (2020); e Jack Edjourian, artista de efeitos especiais e que trabalhou em filmes como “Homem-Aranha” (2002) e “Top Gun: Maverick” (2022).

Que a longa relação entre armênios e Oscar continue, já que “Aurora’s Sunrise” pode fazer história em 2023!

 

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