Areni-1 e suas incríveis descobertas

Um dos povos mais antigos do mundo, os armênios já deram grandes contribuições à humanidade. Várias delas foram encontradas nesse complexo de cavernas

Quando pensamos em algo simples e corriqueiro como um simples sapato, é natural imaginarmos que ele sempre esteve presente, de alguma forma, na história humana. Mas não é bem assim.

O sapato está presente entre nós há “apenas” alguns milhares de anos, assim como diversas outras coisas importantes para nós. E todos têm algum em comum: foram criados e descobertos na região que historicamente vivem os armênios, um povo milenar e ainda muito criativo!

Areni-1

A evidência de que a Armênia foi habitada desde os tempos antigos está espalhada por toda a região. E uma dessas provas está justamente no complexo de cavernas Areni-1, que também é conhecida como Caverna dos Pássaros (“Trchuneri”, em armênio).

Localizada perto da cidade de Areni, que fica próxima aos rios Arpa e Gnishik, na províncial central de Vayotz Dzor, a cerca de 125 km da capital Yerevan, a caverna está a uma altitude de 1.080 metros acima do nível do mar e pertence ao período Cretáceo. E graças ao seu microclima, todos os vestígios dentro dela estão perfeitamente preservados.

Arqueólogos e cientistas acreditam que a Areni-1 foi habitada por pessoas durante o período Calcolítico (Idade do Cobre) Tardio (cerca de 6.000 a 3.000 a.C.), pessoas essas as quais eles se referem como a “cultura arqueológica Kura-Araks”, que eram contemporâneas do Egito pré-dinástico e que habitavam locais com histórica presença armênia: nos atuais territórios da Armênia, Geórgia, Azerbaijão e partes do Irã e Turquia.

E os materiais recuperados da caverna sugerem que as atividades humanas ocorreram durante um período de décadas ou séculos, desde o final do quinto milênio a.C. até o início do quarto milênio a.C. Além disso, as escavações realizadas indicam a probabilidade de haver uma divisão de trabalho entre os Kura-Araks, refletindo na forma como a caverna foi utilizada. Assim, havia diferentes espaços para fins específicos, como: locais de habitação, locais de produção econômica e material; e lugares designados para rituais e ritos funerários.

E nela, foram descobertos sementes, nozes, restos de carvão, um furador de osso e lâmina de obsidiana, inúmeros restos de cerâmica, ossos de ovelhas, cabras e porcos, além de diversos dentes humanos. E em sua parte traseira, os habitantes utilizavam poços com grandes potes ou vasos de cerâmica para descarte de lixo; curiosamente, os ossos de várias crianças e bebês foram encontrados nestas áreas de lixo e não se tem conhecimento se eles foram considerados “lixo”.

Provavelmente, os Kura-Araks consumiam a carne de cabras e ovelhas, já que ossos espalhados de animais com marcas de abate sugerem isso.

 

A entrada do complexo de cavernas Areni-1

 

Incríveis descobertas

E a descoberta mais famosa da Areni-1 é o Sapato Areni-1, que leva o nome devido à caverna. Feito de couro e com 5.500 anos de idade, esse sapato é mais antigo que as Pirâmides de Gizé e 1.000 anos mais antigo que o sapato encontrado em Ötzi, o “Homem do Gelo”.

Areni-1, o sapato mais antigo do mundo, descoberto em 2008 na Armênia

 

Descoberto pela arqueóloga Diana Zardaryan, que fazia parte de uma equipe internacional de arqueólogos liderado por Boris Gasparyan, o sapato foi encontrado de cabeça para baixo em um poço de 45 cm de profundidade e 48 de largura, sob uma tigela de cerâmica quebrada e, perto dele, estavam chifres de cabra e outro pote quebrado.

As condições perfeitas do Sapato Areni-1 se devem às condições secas e frias dentro da caverna; outro fator que ajudou foi a camada de esterco de carneiro acima do objeto, que atuou como um bloqueio sólido. Feito em uma única peça de couro e com 24,3 cm de comprimento e 7,3 cm de largura, os pesquisadores creem que o sapato pertencia a uma mulher, devido ao tamanho – para os padrões atuais, seria um calçado 36 ou 37. Porém, teria sido possível que o sapato fosse de um homem, já que eles eram menores naquela época.

Detalhes do Areni-1, o sapato mais antigo do mundo

 

Outra descoberta muito famosa e importante foi realizada em 2011: a vinícola mais antiga do mundo. Datada de 4.100 a.C., a vinícola mostra que os vinicultores da Idade do Cobre prensavam seu vinho à moda antiga, usando os pés. Na caverna, foi desenterrada uma prensa para pisar em uvas, além de vasos de fermentação e armazenamento, copos, videiras murchas, casca e sementes. Segundo os pesquisadores, a descoberta é “importante e única”, porque indica a produção de vinho em larga escala desde aquela época, o que implica que as uvas já haviam sido domesticadas pelos povos que habitavam ali. Além disso, o cultivo de uvas anunciou o surgimento de novas e sofisticadas formas de agricultura.

Como a Armênia é considerada o berço da vinicultura, acredita-se que o vinho tenha sido para fins religiosos ou ritualísticos.

Vinícola de mais de 6.000 anos descoberta no complexo Areni-1

 

Em 2010, foi a vez da saia mais antiga do mundo ser descoberta. Feita de junco, que é uma planta citada diversas vezes na Bíblia, essa saia é justamente a roupa de junco mais antiga do mundo. Sobre ela, Pavel Avetisian, chefe do Instituto de Arqueologia e Etnografia de Yerevan, disse: “As roupas femininas remontam ao Século XXXIX a.C. Até agora, descobrimos partes dessa saia, que foram preservadas de forma única. É um material incrível, com tons de cores rítmicos. Além dela, outros remanescentes de material de palha também foram descobertos”.

Com mais de 5.900 anos, a saia mais antiga do mundo

E, por fim, liderada pela mesma equipe que descobriu o Sapato Areni-1, o pedaço de cérebro mais antigo do mundo foi encontrado em 2009.

Ele estava dentro de um dos três crânios humanos descobertos, que pertenciam a meninas de 12 a 14 anos de idade da Idade do Cobre; cada um dos crânios estava enterrado em uma câmara separada e as três meninas claramente ocupavam uma posição elevada em sua sociedade.

Graças ao clima úmido da caverna, o cérebro estava bem preservado e, nele, foram encontrados restos de glóbulos vermelhos e brancos. A descoberta é tão impressionante que sobre ela o arqueólogo Boris Gasparyan comentou: “É claro que as múmias do Egito faraônico continham cérebros, mas o que encontramos é mais velho em cerca de 1.000 a 1.200 anos”.

Pedaço do cérebro humano mais antigo do mundo, que pertencia a uma jovem

 

Uma coisa é certa: onde tem Armênia tem história!

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