logo_ugab_desc_az

120 anos do gênio Aram Khachaturian

A cultura armênia é rica em diversos sentidos e campos. Mas, sem dúvidas, um dos destaques fica para a música, com nomes como Sayat Nova e Komitas. E foi na música que surgiu um dos maiores gênios armênios da história: Aram Khachaturian, que hoje, dia 6 de junho, completaria 120 anos.

Origens

Nascido em 6 de junho de 1903, seu local de nascimento ainda é um mistério: para muitos, nasceu em Tbilisi, capital da Geórgia, que à época era parte do Império Russo e que tinha uma grande presença armênia; para outros, inclusive para o próprio Khachaturian, nasceu no vilarejo de Kodzhori, próximo a Tbilisi.

Seu pai Yeghia (Ilya) Khachaturian e sua mãe Kumash Sarkisovna ficaram noivos antes de se conhecerem, quando seu pai tinha 19 anos e sua mãe nove anos de idade. Tiveram cinco filhos – quatro filhos e uma filha –, sendo Aram o mais novo. Ele recebeu sua educação primária na escola comercial de Tbilisi e, como profissão, considerou seguir carreira em medicina ou engenharia,

Nos Séculos XIX e XX, Tbilisi era uma cidade multicultural e centro administrativo do Cáucaso. Assim, Khachaturian foi exposto a várias culturas e, em um artigo escrito em 1952 intitulado “Minha ideia do elemento folclórico na música”, ele disse: “Cresci num ambiente rico em música folclórica: festividades populares, ritos, acontecimentos alegres e tristes na vida do povo sempre acompanhados de música, as melodias vivas de canções e danças armênias, azerbaijanas e georgianas executadas por bardos folclóricos [ashugs] e músicos — tais foram as impressões que ficaram gravadas na minha memória, que determinaram o meu pensamento musical. Eles moldaram a minha consciência musical e lançaram as bases da minha personalidade artística…”

Família de Aram Khachaturian, 1913, Tbilisi
Sentados: Suren, Kumash Sarkisovna, Aram (braços cruzados), Yeghia Voskanovich, Levon
Em pé: Sara Dunaeva (esposa de Suren), Vaginak e sua esposa Arusyak

Aos 18 anos de idade, Aram Khachaturian se mudou para Moscou, onde já vivia seu irmão Suren; lá, se matriculou no Instituto Musical Gnessin para estudar música, ao mesmo tempo que estudava biologia na Universidade Estadual de Moscou.

O seu desenvolvimento musical foi rápido e rapidamente ele se tornou um dos melhores alunos. Inicialmente estudando violoncelo, mais tarde ele ingressou em um curso de composição e foi nesse período, a partir de 1925, que ele compõe suas primeiras obras: a Suíte de Dança para violino e piano (1926) e o Poema em Dó Sustenido Menor (1927). Nesses primeiros trabalhos, ele usou extensivamente a música folclórica armênia.

 

Aram Khachaturian em seus anos de estudante

Porém, apesar da influência armênia, vale a pena mencionar que Aram Khachaturian sempre foi desprovido de qualquer ufanismo; ele tinha um profundo respeito e um vivo interesse pela música de várias nações e o internacionalismo é um dos traços característicos do trabalho criativo do célebre compositor.

Carreira

Em 1935, como trabalho de formatura do Conservatório de Moscou, lançou sua Primeira Sinfonia, marcando o início de um novo período de vida e de trabalho criativo do compositor. O público, a imprensa, colegas e amigos elogiaram o alto valor artístico da composição, a originalidade, a riqueza de melodias, as cores harmônicas e orquestrais e o brilhante colorido nacional da música – mais do que isso, seu trabalho chamou a atenção de maestros proeminentes e logo foi executada pelas melhores orquestras soviéticas da época.

Em 1936, ao concluir seus estudos de pós-graduação, iniciou uma carreira criativa ativa e escreveu, no mesmo ano, sua primeira grande obra: Concerto para Piano. Com ela, obteve sucesso e se tornou um compositor respeitado na União Soviético e, além disso, foi tocado e aclamado muito além das fronteiras soviéticas, estabelecendo, assim, seu nome no exterior.

Com tanto renome com tão pouca idade, em 1939 ele fez uma viagem de seis meses à sua Armênia natal para fazer um estudo aprofundado do folclore musical armênio e coletar canções folclóricas e danças para seu primeiro balé – intitulado Felicidade -, que completara no mesmo ano.

A viagem para a Armênia também serviu, segundo o próprio Khachaturian, como um “segundo conservatório”. Lá, nessa comunhão com a cultura nacional e prática musical do país, aprendeu muito, viu e ouviu muitas coisas e, ao mesmo tempo, teve uma visão dos gostos e exigências artísticas do povo armênio.

Em 1942, no auge da Segunda Guerra Mundial, ele reformula seu balé Felicidade e transforma a sua nova obra em um de seus trabalhos mais celebrados: o balé Gayane, uma composição em que o compositor sintetizou habilmente a tradição do balé clássico com o folclore da música nacional armênia e da arte coreográfica.

Aram Khachaturian com as bailarinas Xenia Zlatkovskaya e Tatyana Vecheslova em 1942

Apresentado pela primeira vez pelo Balé Kirov, o balé foi um grande sucesso e rendeu a Khachaturian seu segundo Prêmio Stalin (e dessa vez de primeira classe) – ele devolveu o dinheiro da premiação ao estado soviético e pediu para que o estado usasse o valor para a construção de um tanque para o Exército Vermelho. E ainda hoje, Gayane é um sucesso e partes da obra foram utilizados em clássicos do cinema, como “2001 – Uma Odisseia no Espaço” (1969) e “Aliens, o Resgate” (1986).

Em 1943, ele compôs a Segunda Sinfonia pelo 25° aniversário da Revolução de Outubro. Novos e extraordinários lados de seu trabalho criativo foram revelados nesta composição dos anos de guerra, em que a música foi enriquecida com novas cores de heroísmo e tragédia. Dmitriy Shostakovich escreveu: “A Segunda Sinfonia é talvez a primeira composição de Khachaturian, na qual o início trágico atinge novos patamares; mas, apesar da sua essência trágica, esta composição está repleta de profundo otimismo e crença na vitória. Uma combinação de tragédia e afirmação de vida aqui está adquirindo grande poder.”

Já em 1944, ele criou duas importantes obras: a música incidental para a peça Masquerade, de Mikhail Lermontov, e o hino nacional da República Socialista Soviética da Armênia.

Mesmo com seu sucesso e reconhecimento na União Soviética, em 1948, juntamente com Dmitry Shostakovich e Sergey Prokofiev, Khachaturian foi acusado pelo Comitê Central do Partido Comunista de tendências burguesas em sua música – ele admitiu sua culpa. Entretanto, em dezembro do mesmo ano, ele voltou às boas graças com o partido, recebendo, inclusive, elogios por sua trilha sonora para o filme “Vladimir Ilyich Lenin”, uma biografia cinematográfica do líder soviético.

Anos depois, após a morte de Joseph Stalin em 1953, no entanto, ele condenou publicamente a acusação do Comitê Central, que foi formalmente rescindida em 1958. Também, se tornando uma figura pública, foi um dos primeiros a pressionar o estado soviético pelo relaxamento das duras condições musicais e artísticas no país. Pelo seu renome, em 1954 foi nomeado Artista do Povo da União Soviética e recebeu em 1959 o Prêmio Lenin – em sua carreira, recebeu mais de 15 honrarias mundo afora.

Nesse período, Khachaturian escrevia, ensinava e viajava bastante, ao mesmo tempo em que trabalhava em seu enorme balé de quatro ato, Spartacus (1956), que era ambientado na Roma Antiga, mas com muitos elementos exóticos. Esse balé heroico e trágico ocupou – e ocupa – um lugar merecedor entre os melhores balés do Século XX pela profundidade da sua ideia, pelo brilho da implementação artística, pela escala da arte e da forma dramática e, por fim, pela ousadia na resolução de problemas criativos reais relacionados com a música contemporânea e a arte coreográfica.

Depois de completar Spartacus, desde o final dos anos 1950, Khachaturian concentrou-se menos na composição e mais na regência, no ensino, na burocracia e nas viagens. A partir de 1958, serviu como presidente da Associação Soviética de Amizade e Cooperação Cultural com os Estados Latino-Americanos e, a partir de 1962, foi membro do Comitê Soviético para a Paz. Em sua carreira, fez turnês em cerca de 30 países, incluindo o Brasil e, de 1957 até a sua morte, serviu como Secretário do Sindicato dos Compositores.

Aram Khachaturian trabalhou em diversas frentes, compondo sinfonias, concertos, músicas para balés e peças de teatro. Além disso, conseguiu destaque nas trilhas sonoras para cinema; ele foi o primeiro compositor soviético a escrever músicas para filmes sonoros e, no total, compôs 25 trilhas sonoras – entre eles, está a trilha de “Pepo” (1935), o primeiro filme sonoro armênio. Em 1950 ele recebeu o prêmio Stalin pela trilha sonora de “A Batalha de Stalingrado” (1949).

Vida pessoal

A vida pessoal de Khachaturian foi rica em acontecimentos. No final da década de 1920 se casou com sua primeira esposa, Ramel, que era armênia. Juntos, tiveram uma filha, Nune, que se tornou uma importante pianista.

Ramel e Nune

Em 1933, Khachaturian se casou com a russa Nina Makarova. Também musicista, juntos tiveram um filho, Karen, nascido em 1942, e juntos ficaram até o fim da vida do célebre compositor. Karen se tornou um crítico de arte.

Nina Makarova e Aram Khachaturian encontram o autor Ernest Hemingway em Cuba, em 1960

Com uma linda história de vida e carreira, Aram Khachaturian faleceu em Moscou no dia 1 de maio de 1978, após uma longa doença e pouco antes de completar 75 anos. Ele foi enterrado no Panteão Komitas em Yerevan no dia 6 de maio, ao lado de outros ilustres armênios.

Um dos mais importantes compositores do Século XX – e o mais importante compositor armênio –, Khachaturian é considerado um tesouro nacional armênio, sendo considerado uma figura chave na cultura armênia. Descrito pelo músico e produtor Şahan Arzruni como “o embaixador musical da cultura armênia”, Aram Khachaturian, gênio como foi, também é apontado como a pessoa que trouxe reconhecimento mundial à música armênia.

 

O gênio armênio Aram Khachaturian

Facebook
Twitter
LinkedIn
Email
Pedidos ou Contato?