Morre Aracy Balabanian, ícone da cultura brasileira

Com muita tristeza, o Brasil perdeu hoje, dia 7 de agosto, uma de suas atrizes mais queridas e importantes: a armênia-brasileira Aracy Balabanian.

Nascida em 22 de maio de 1940 em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, Aracy era filha de Rafael e Estér Balabanian, casal que escapou das perseguições otomanas contra armênios e que fixou residência em Campo Grande, sendo a única filha que nasceu durante o casamento dos pais, que tiveram filhos em casamentos anteriores – os irmãos de Aracy são: Maria, Yeranui, Amenui, Arshaluz, Avediz e Armem.

Aracy Balabanian na infãncia no Mato Grosso do Sul

Seu pai era pastor de ovelhas na Armênia e se casou com uma mulher na década de 1920; no primeiro casamento, Rafael teve cinco filhos. Porém, a esposa dele faleceu aos 28 anos de idade e foi quando ele se casou com Estér, mãe de Aracy, que também era armênia e viúva.

Sobre a história de seus pais, Aracy disse: “Meus pais ficaram viúvos ao mesmo tempo, e a colônia os juntou. Um precisava do outro, e, enquanto meu pai criou os filhos da minha mãe, ela criou os dele. Mesmo tendo sido criada com tanta dor, nunca cresci com mágoa, rancor.”

E sobre a importância da herança armênia, em 2015, ano do centenário do Genocídio Armênio, ela disse à Folha de S.Paulo: “Frequentei muito a colônia armênia. Minha mãe me ensinava poesias em armênio para declamar todo 24 de abril, noite da lembrança. Eu fazia todos os outros chorarem muito ouvindo isso. Ali vi que gostava do palco”.

Também, ela comentou: “Herdei isso de ser batalhadora dos meus antepassados. Acredito que o máximo que fiz, da minha parte, foi dando dignidade ao meu trabalho, em 50 anos de profissão. Muita gente falou para o meu pai não me deixar atuar, ou tirar meu “-ian” do nome. Mas nunca deixei. Como eu viveria sem meu indício de armenidade? Fiz questão de não mudar, porque conhecia a garra de meus antepassados. ‘Vocês são bons brasileiros, mas não esqueçam de onde vieram’, era o que meu pai me dizia. E foi assim que segui.”

Carreira

Aracy se viu como atriz aos 12 anos de idade, já morando na cidade de São Paulo com a família, ao assistir – levada pelas irmãs mais velhas – a uma peça de Carlo Goldoni com Maria Della Costa.

E para seguir a carreira, ela teve que driblar a rejeição de seu pai Rafael, já que, segundo a própria Aracy, essa era uma “época em que não era bonito fazer televisão, nem teatro”. Mas ela venceu a rejeição do pai e, aos 14 anos de idade, foi convidada por Augusto Boal, então diretor do Teatro de Arena, para um teste no Teatro Paulista do Estudante. Lá, ela passou e seu primeiro trabalho foi a peça “Almanjarra”, de Arthur Azevedo.

Aos 18 anos, fez vestibular para a Escola de Arte Dramática de São Paulo e para o curso de Ciências Sociais na USP, que era um desejo de seu pai. Aprovada em ambos, ela abandonou o último curso no terceiro ano para se dedicar totalmente ao teatro. E sendo já reverenciada pelos críticos, ela participou de espetáculos do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e integrou o elenco da primeira montagem no Brasil, em 1969, do renomado musical “Hair”.

A sua estreia na televisão foi na peça “Antígona”, de Sófocles, montada pela TV Tupi. E mesmo após já estar estabelecida na carreira, seu pai só aceitou de vez a opção profissional da filha em 1968, quando ela contracenou com o ator Sérgio Cardoso na telenovela “Antônio Maria”.

Aracy Balabanian (à esquerda) em “Antônio Maria”, da TV Tupi

Dentre seus diversos trabalhos em 60 anos de carreira, certamente, um dos mais marcantes foi a icônica Dona Armênia em “Rainha da Sucata”, novela de 1990 escrita por Silvio de Abreu. Na novela, ela era uma mãe controladora de três filhos e, para dar vida à personagem, ela pegou emprestado o sotaque e alguns costumes armênios da família – o personagem fez tanto sucesso que voltou em “Deus nos Acuda”, de 1992.

Aracy Balabanian como a icônida Dona Armênia em “Rainha da Sucata”

Em 1995, ela interpretou a manipuladora Filomena em “A Próxima Vítima”, novela também escrita por Silvio de Abreu. Por esse papel, ela recebeu o prêmio de Melhor Atriz da Associação Paulista de Críticos de Arte.

Aracy Balabanian como a icônida Dona Armênia em “A Próxima Vítima”

Após esses sucessos mencionados acima, a consagração veio com Cassandra, personagem da sitcom “Sai de Baixo”, de 1996, que fez muito sucesso no Brasil e Portugal. Na sitcom, que era exibida aos domingos à noite e que era gravada em um teatro com plateia ao mesmo tempo que incorporava risos e improvisos do elenco, Aracy interpretava uma socialite decadente. Sobre o programa, que teve mais de 240 episódios, ela disse: “Eu me vi fazendo uma coisa que é o sonho de todo ator: teatro e televisão, ao mesmo tempo“.

Aracy Balabanian ao lado de Luiz Gustavo, Miguel Falabella, Marisa Orth e Márcia Cabrita, elenco da sitcom “Sai de Baixo”

Armênia

Mesmo com tanto sucesso e reconhecimento, nunca esqueceu suas raízes armênias. Aracy jamais abriu mão da memória do que seus pais e colegas de diáspora contavam sobre o período sombrio da história otomana e, por isso, ela sempre foi uma das vozes que mais lutou no Brasil pelo reconhecimento do Genocídio Armênio e, mais do que isso, sempre carregou com orgulho o seu sobrenome armênio.

Simpatizante, associada e colaboradora da UGAB, esteve presente em diversos eventos da nossa instituição.

Regina Bazarian, ex-Presidente da UGAB Brasil, e Aracy Balabanian em 2000, quando a atriz foi homenageada pela UGAB Brasil

E neste dia tão triste para a cultura brasileira e armênia, a UGAB Brasil deseja os nossos mais sinceros sentimentos aos familiares de Aracy Balabanian.

Sentiremos sua falta! Azvadz Hokin Lusavore.

 

Aracy Balabanian, ícone da cultura brasileira

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